Vem aí o primeiro ciclo, será que o meu filho está preparado? Será que é melhor esperar mais um ano? Este artigo pretende responder às questões que os pais muitas vezes colocam, descomplicando um tópico que normalmente surge associado a ansiedade e medos.
Neste conteúdo, esclarecemos as seguintes dúvidas:
- O que é a prontidão escolar
- Quando deve ser feita a avaliação da prontidão escolar
- Como funciona a avaliação
- O que acontece depois da avaliação
Se tem todas estas questões esclarecidas, e gostaria de marcar uma avaliação da prontidão escolar, entre em contacto conosco.
O que é a prontidão escolar?
A escola é uma parte importante da vida de uma criança. Contudo, nem todas as crianças têm as ferramentas necessárias para lidarem com esta mudança, e é aqui que surge o termo Prontidão Escolar.
De uma forma simples, a prontidão escolar é o conjunto de competências que uma criança deve ter desenvolvido até aos 5 anos que a tornam capaz de iniciar e frequentar o primeiro ano de uma forma bem-sucedida.
Não se trata apenas de competências académicas. No fundo é perceber quão fácil será para a criança a transição para um novo ciclo escolar, e quão adaptada está a nível cognitivo, emocional, social e físico para esta mudança.
Alertamos para que a prontidão escolar é tanto sobre as capacidades da criança como as capacidades dos pais, educadores e profissionais em ajudar a criança a desenvolver estas competências. Já que, as crianças não consegues desenvolver estas capacidades para a escola sozinhas.
Vamos, então, descobrir um pouco mais sobre cada um dos domínios: cognitivo, social, emocional e físico.
Nível cognitivo
Para o sucesso escolar, a criança tem que ter desenvolvido a sua capacidade cognitiva, que engloba: atenção, memória, linguagem, funcionamento executivo, raciocínio, planeamento e noções básicas de pré-leitura e pré-cálculo. Estas competências são necessárias para a aprendizagem da leitura, escrita e cálculo, mas também para tarefas como conseguir preparar a sua mala para o dia seguinte ou manter a atenção durante a aula.
Nível emocional
A forma como uma criança percebe e responde às suas emoções é fundamental para lidar com mudanças. E a mudança do pré-escolar para o primeiro ciclo é uma das mudanças mais significativas que ocorre na infância. Assim, é importante que a criança consiga identificar as suas emoções, a causa delas e como se podem autorregular, pois só assim irá aprender a lidar com a frustração e adaptar-se a novas rotinas.
Nível social
A escola é um ambiente muito social. Com a mudança de escola muitas vezes associada com a entrada no primeiro ciclo, a criança tem que interagir com adultos e crianças que muitas vezes não conhece. Isto significa que tem que estar dotada de ferramentas de comunicação verbal e não-verbal (como gestos ou expressões faciais).
Nível físico
Neste último tópico falamos de competências de motricidade fina para a aprendizagem da escrita, mas também a capacidade de articulação de palavras ou ainda capacidades de processamento sensorial. Aqui inclui-se também questões de motricidade grossa associada ao equilíbrio e controlo do corpo, que podem ter impacto na forma como a criança se consegue manter sentada na cadeira.
Algumas destas competências podem ser difíceis de adquirir para algumas crianças, o que não é necessariamente um problema.
É importante que se relembre que algumas destas competências podem ser difíceis de adquirir para algumas crianças, o que não é necessariamente um problema, bem como cada criança tem o seu ritmo de aprendizagem. O importante é que os adultos à sua volta, estejam alerta e disponíveis para providenciar a ajuda necessária.
Quando deve ser feita a Avaliação da Prontidão Escolar?
Idealmente, a avaliação da prontidão escolar, é feita entre os 5 e os 6 anos e antes do início da educação formal (primeiro ano de escolaridade).
Atendendo à forma como o ensino funciona em Portugal, é necessário que a avaliação seja feita alguns meses antes do período de matrícula, para garantir que a decisão de um possível adiamento ou antecipação de matrícula seja feito de forma ponderada e de acordo com os prazos exigidos por lei.
A avaliação da prontidão escolar poderá, também, ser feita para as crianças que fazem anos após dia 16 de setembro, uma vez que estas não estão obrigadas à matrícula no primeiro ano de escolaridade. Aqui, os pais/encarregados de educação estão perante a decisão da criança ingressar na escola com 5 anos (quase a fazer 6) ou esperar mais um ano e a criança entrar na escola perto dos 7 anos de idade.
Sinais que podem sugerir inaptidão escolar.
Os adultos podem estar atentos a vários sinais que podem sugerir que a criança ainda não está preparada para entrar na escola. Alguns são mais fáceis de reparar do que outros, mas deixamos uma lista com alguns sinais.
| Fica frustrada com facilidade |
| Tem dificuldade em seguir instruções |
| Depende dos adultos para se vestir |
| Não consegue ir à casa de banho sozinha |
| Tem dificuldades em ficar concentrada nas tarefas |
| Tem dificuldades sociais, como dificuldade em partilhar |
| Tem dificuldades em articular palavras ou em repetir lengalengas |
| Tem dificuldade em contar ou em reconhecer quantidades |
| Tem dificuldade em compreender as consequências das suas ações |
| Fica irritada ou incomodada quando lhe é pedido algo |
| Não interage bem com outras crianças |
| Tem dificuldade em brincar com outras crianças |
| Revela pouca curiosidade ou resiste a novas atividades ou aprendizagens |
| Tem dificuldades em reconhecer letras, números ou o seu nome escrito |
| Tem dificuldades em contar histórias ou acontecimentos |
Estes são apenas alguns sinais que podem levar pais e educadores a estar atentos e a procurar uma avaliação da prontidão escolar.
A decisão de ingresso no primeiro ciclo é sempre dos pais ou encarregados de educação.
Importa reforçar que a decisão de ingresso no primeiro ciclo é sempre dos pais ou encarregados de educação. Independentemente da opinião dos profissionais, a decisão final cabe aos pais, e são eles os responsáveis pela matrícula ou pedido de adiamento desta.
Como funciona a avaliação psicológica para a prontidão escolar?
A avaliação da prontidão escolar é uma avaliação psicológica, pelo que terá que ser sempre realizada por um psicólogo com competências para a mesma. Normalmente é feita por um psicólogo clínico infantil ou por um psicólogo escolar.
O processo tem, normalmente três etapas que permitem traçar um perfil das competências (cognitivas, sociais, emocionais e físicas) da criança, destacando as suas áreas fortes e aquelas em que é necessário ativar algum apoio.
Qual é a estrutura da avaliação?
Tipicamente, numa primeira fase, é feita uma entrevista com os pais. Aqui, são recolhidas informações sobre o desenvolvimento global da criança (idade em que começou a falar, em que começou a andar, em que largou as fraldas), mas também das suas rotinas e do seu comportamento. É aqui que os pais têm oportunidade de partilhar as suas preocupações e motivos que levaram a pedir esta avaliação. Muitas vezes é recolhida informação junto dos educadores, para perceber o funcionamento da criança no pré-escolar.
De seguida, o psicólogo faz uma sessão inicial com a criança, que permite observar o comportamento dela, perceber algumas questões da comunicação, interação social, envolvimento em brincadeiras e também algumas coisas sobre a sua capacidade de atenção.
Após esta fase e quando a criança já se sente confortável com o psicólogo, são aplicadas provas psicológicas padronizadas para avaliar a componente cognitiva, emociona e social. São provas adaptadas à crianças e desenvolvidas especificamente para verificar se a criança se encontra apta para a entrada na escola.
Após concluída a avaliação, é realizado o relatório, que será entregue aos pais e que deverá ser anexado ao pedido de adiamento ou antecipação da matrícula.
Como são as avaliações na Clínica da Neuropsicologia?
Na Clínica da Neuropsicologia, uma avaliação da prontidão escolar dura entre 3 a 7 sessões e segue a estrutura apresentada anteriormente.
- Entrevista – só com os pais ou com os pais e com a criança.
- Observação – sessão só a criança para observar o comportamento da criança e estabelecer relação com ela
- Realização de testes – aplicação de testes psicológicos padronizados para avaliação da prontidão escolar
- Entrega de relatório – sessão de devolução dos resultados da avaliação, na qual é explicado e entregue o relatório da avaliação. Normalmente esta sessão acontece cerca de 2 semanas depois da última sessão de aplicação de testes, para que haja tempo para a elaboração de um relatório cuidado.
Se gostaria de saber mais sobre a forma como trabalhamos na Clínica da Neuropsicologia, não hesite em contactar-nos.
O que pode ser recomendado após a avaliação?
Com base nos resultados da avaliação da prontidão escolar, podem ser sugeridos diversos caminhos a tomar.
Se por um lado os resultados da avaliação podem concluir que a criança tem as competências necessárias para ingressar no primeiro ciclo sem restrições, podem também identificar algumas áreas que carecem de apoio.
Caso sejam identificadas algumas fragilidades, o psicólogo poderá recomendar iniciar acompanhamento psicológico, terapia da fala, psicomotricidade ou algum acompanhamento pedagógico específico. Estas sugestões têm o objetivo de fortalecer as competências da criança e não necessariamente uma decisão quanto ao ingresso ou não na escola.
Quando existem sinais claros de que a adaptação e sucesso escolar poderão estar comprometidos, poderá ser sugerido o adiamento da matrícula, permitindo à criança ter mais um ano para continuar o desenvolvimento das suas capacidades cognitivas, sociais, emocionais e motoras.
Adiamento da matrícula: como fazer
Segundo a legislação em vigor em Portugal, numa primeira fase o encarregado de educação deverá enviar um requerimento à Direção Regional de Educação, normalmente entregue no estabelecimento de ensino que a criança frequenta, a solicitar o adiamento da matrícula para o 1º ano de escolaridade.
Este pedido deverá ser submetido até dia 15 de maio e terá que ser acompanhado por um relatório de avaliação pedagógica redigido pelo educador de infância, por um relatório de avaliação psicológica (relatório de avaliação da prontidão escolar) e por relatórios de outros profissionais que acompanham a criança (terapeuta da fala, terapeuta ocupacional, pediatra, fisioterapeuta, psicomotricista, entre outros). É ainda necessária a avaliação da Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva, que deverá emitir o seu parecer e eventuais sugestões de adaptação escolar.
Apesar das informações disponibilizadas, sugerimos que os pais e encarregados de educação questionem junto dos educadores e agrupamento escolar quais os procedimentos necessários, uma vez que eles estão bastante habituados e podem ocorrer mudanças na legislação ou procedimentos.
Como ajudar uma criança que ainda não está pronta para o primeiro ciclo?
Para além das sugestões que os educadores e psicólogos podem sugerir especificamente para a criança, existem alguns comportamentos que os pais podem tomar para ajudar uma criança a desenvolver as competências necessárias para a entrada na escola.
Dificuldades de socialização – pode ser útil levar a criança a um parque infantil ou jardim, para estar em contacto com outras crianças. Marcar play dates pode ser outra forma de ajudar a criança a interagir com outras crianças.
Dificuldades de independência – pode parecer simples, mas pequenos gestos como encorajar a criança a fazer as coisas sozinha pode ser uma grande ajuda. Sugerimos incentivar a criança a vestir-se sozinha, comer sozinha ou fazer pequenos recados fora de casa.
Dificuldades de motricidade – as tarefas mais associadas à motricidade são o desenhar, pintar, escrever, cortar ou picotar. Podem ser realizadas com os dedos, mas idealmente recorrendo a ferramentas como lápis, canetas, pinceis, tesouras, pioneses entre muitas outras.
Dificuldades de linguagem – ler livros às crianças, pronunciar as palavras corretamente para a criança ouvir, descrever o que a criança está a fazer, brincar com trava línguas e lengalengas, são boas estratégias para ajudar a criança a desenvolver a sua linguagem.
Será que a minha criança está pronta para o 1º ano?
Apresentamos de seguida uma checklist que preparámos que pode utilizar para ter uma ideia se a sua criança está pronta para os desafios do primeiro ano. Esta checklist deverá ser aplicada apenas a crianças que já tenham completado os 5 anos de idade e que estejam no último ano do ensino pré-escolar.
Percorra as várias competências e vá assinalando aquelas que considera que a criança já adquiriu.
Se assinalou 20 ou menos, isto poderá sugerir que a criança poderá ainda não estar preparada para o primeiro ano.
Fontes
https://repositorio.ulisboa.pt/bitstream/10451/7825/1/ulfpie043045_tm_tese.pdf
https://repositorio.grupoautonoma.pt/entities/publication/f81a93b4-dba1-425f-8e66-d44da042d5a0
https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/21622965.2023.2275677
https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/despacho-normativo/6-2018-115093805
https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/decreto-lei/54-2018-115652961
https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/decreto-lei/176-2012-179057
https://www.dgeste.mec.pt/sinf/faqsmatriculas/
https://learningjournals.co.uk/what-is-school-readiness-and-what-it-mean-for-eyfs-free-checklist-included/