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6 Estratégias Práticas para Redescobrir a Sexualidade Pós AVC

A sexualidade é uma parte essencial da vida e desempenha um papel central no bem-estar físico, emocional e psicológico de cada indivíduo. Após um Acidente Vascular Cerebral (AVC), muitas pessoas enfrentam mudanças que desafiam o regresso a uma vida sexual ativa. Este artigo pretende ser um guia para todos os que desejam conhecer melhor as implicações de um AVC na vida sexual, fornecendo estratégias práticas para alguns dos desafios mais comuns que surgem. Através da informação e conhecimento, é possível que sobreviventes de AVC e os/as seus/suas parceiros/as redescubram a intimidade e vivam uma sexualidade gratificante.

Se a sua sexualidade sofreu alterações após um AVC, lembre-se: é possível encontrar apoio para redescobrir o equilíbrio. Fale com um profissional especializado.

O Impacto do AVC na Sexualidade

Estudos mostram que a maioria dos/as sobreviventes de AVC relatam alterações significativas na sua vida sexual​. Um estudo reporta que 70% dos/as sobreviventes de AVC descrevem dificuldades com a atividade sexual, apesar de 81% dizer receber informação insuficiente sobre a sexualidade pós AVC. Assim, é importante abordar este tema e tirar algumas dúvidas.

81% dos sobreviventes de AVC dizem receber informação insuficiente sobre a sexualidade pós AVC

Estas mudanças mais comuns que podem ocorrer, tanto podem ser a nível físico, emocional, cognitivo, comportamental ou relacional. Embora o impacto do AVC varie de pessoa para pessoa, algumas dificuldades mais comuns são:

  • Alterações Físicas: Perda de força muscular, hemiparesia, fadiga, disfunção erétil, secura vaginal, dor crónica
  • Mudanças Emocionais: Depressão, ansiedade, baixa autoestima, vergonha, medo, irritabilidade. Alguns sobreviventes relatam receio de que a atividade sexual possa desencadear um novo AVC
  • Mudanças Cognitivas: Dificuldades de memória, atenção, concentração, linguagem
  • Alterações Comportamentais: Impulsividade, comportamento desinibido, apatia, compulsividade
  • Desafios Relacionais: Mudanças nos papéis e nas dinâmicas do casal, dificuldades de comunicação, alteração da líbido que altera a dinâmica sexual do casal

A chave para a satisfação sexual está na adaptação e compreensão de que essas mudanças não precisam de definir a relação. Pequenas mudanças, experimentar coisas novas e uma boa comunicação ajudam a superar todos os obstáculos.

Estratégias Práticas para Retomar a Intimidade Após um AVC

Para superar as barreiras físicas e emocionais após um AVC, pequenas adaptações e novas abordagens à intimidade podem fazer uma grande diferença. Deixamos 6 sugestões que pensamos que podem ser úteis.

1 – Superar o medo e recomeçar gradualmente

É normal ter receio de recomeçar a sua vida sexual. Muitas pessoas receiam que o sexo possa provocar um novo AVC. É importante saber que é seguro retomar a sua sexualidade. O risco de ter um AVC durante o sexo é de cerca de 0.1%, pois o esforço físico necessário é o equivalente ao de subir dois lances de escadas.
Contudo, se for reconfortante, confirme com um médico se a sua condição física e estado de saúde permitem que retome a sua sexualidade em plenitude.
Deverá também retomar a sua intimidade de forma gradual. Em primeiro lugar, comece por redescobrir e reconectar-se com o seu corpo. A masturbação é uma excelente forma de ajudar os/as sobreviventes de AVC a conhecerem algumas mudanças no seu corpo, bem como a recuperar confiança e à vontade. Com parceiros/as, poderá recomeçar com preliminares repletos de toques, carícias e carinhos antes de avançar para sexo com penetração.

2 – Adaptar a atividade sexual

Após um AVC pode ser necessário readaptar a sexualidade. Um dos principais motivos para estas mudanças são os sintomas físicos como a hemiparesia, dor ou a fadiga. Assim, pode optar por:

  • posições sexuais de baixo esforço e que exigem menor gasto de energia
  • trocar de posição com o/a parceiro/a, ficando numa posição deitada
  • recorrer a almofadas para dar suporte
  • optar por momentos do dia em que tenha mais energia ou menos dores
  • fazer pausas durante o sexo
  • ter um momento de relaxamento antes do sexo (experimente uma massagem relaxante como preliminar)
  • recorrer a lubrificantes para lidar com a secura vaginal ou promover o prazer anal
  • explorar o prazer além da penetração (massagens, carinhos, abraços, beijos, sexo oral)

Deixamos algumas sugestões de posições que podem ser facilitadoras:


Posições sexuais adaptadas para mulheres com limitações físicas/fadiga
Fonte: https://www.portugalavc.pt/sexualidade-apos-avc

Posições sexuais adaptadas para homens com limitações físicas/fadiga
Fonte: https://www.portugalavc.pt/sexualidade-apos-avc

3 – Gerir a incontinência

Alguns sobreviventes de AVC lidam diariamente com incontinência e o uso de sondas. Isto pode atrapalhar a relação sexual, gerar desconforto ou vergonha, ou até mesmo levar a pessoa a achar que não é possível manter uma vida sexual satisfatória devido à incontinência. Primeiro, é importante saber que pode ter sexo caso sofra de incontinência. Depois é fundamental falar abertamente com o/a parceiro/a sobre os receios e desconfortos associados às perdas de urina ou fezes.

Pode ter sexo caso sofra de incontinência!

Deixamos algumas sugestões:

  • Ir à casa de banho antes do sexo, para minimizar as perdas durante a relação
  • Utilizar proteções nas superfícies escolhidas, como resguardos ou toalhas
  • Optar por sexo no chuveiro, para retirar a preocupação com eventuais acidentes
  • Escolha posições sexuais que não façam pressão na zona do abdómen

Caso tenha sonda existem algumas chamadas de atenção diferentes para homens e mulheres. Em ambos os casos, é fundamental falar com a equipa médica para perceber as particularidades do seu caso e os cuidados a ter com a sonda.
Nas mulheres, é importante saber que a uretra é um orifício diferente da vagina. Assim, é possível manter as relações sexuais com penetração mesmo com a presença da sonda. Pode experimentar dobrar a sonda para cima para que esta não atrapalhe.
Nos homens, existe apenas um orifício que permite a micção e a ejaculação. Logo, para sexo com penetração a sonda pode atrapalhar um pouco mais. Pode experimentar, dobrar a sonda, prendendo-a com um preservativo (quem sabe se isto não poderá aumentar o prazer do/a parceiro/a).
Em alguns casos, existe a possibilidade de retirar a sonda. Para isso, é necessário que confirme com a equipa médica se esta é uma possibilidade para si. Terá que aprender a remover e voltar a colocar a sonda e todos os cuidados associados.

Caso tenha dúvidas mais específicas sobre o seu caso, entre em contacto com um profissional de saúde.

4 – Lidar com as alterações de sensibilidade

Um AVC pode alterar a forma como o nosso cérebro processa estímulos sensoriais. Isto significa que o/a sobrevivente de AVC pode ficar mais ou menos sensível a estímulos. Assim, coisas que davam prazer podem deixar de dar e outras que não davam podem começar a dar prazer à pessoa. Nestes casos, falar com um fisioterapeuta sobre técnicas de dessensibilização (para quando a estimulação passa a ser excessiva) podem resultar.
Quando o/a sobrevivente perde a sensibilidade, pode ser importante explorar todos os sentidos. Recorrer a velas aromáticas, fazer brincadeiras com gelo ou gel de massagens aquecido, utilizar alimentos, escolher uma boa banda sonora de fundo ou experimentar uma iluminação do quarto diferente podem ser formas de criar uma experiência sensorial que reforça e facilita o sexo.  

5 – Comunicação: a base para uma intimidade prazerosa e gerir conflitos

A comunicação é vital em todas as relações. Quando o casal passa por desafios acrescidos, como os que surgem após um AVC, a comunicação tem de ser reforçada. A abertura e transparência permitem uma maior compreensão e empatia e ajudam a gerir conflitos.
Experimentem falar sobre os vossos receios, expectativas e limitações. Partilhem o que sentem e as vossas emoções. Falem sobre sexo, as vossas fantasias, os brinquedos sexuais que gostariam de experimentar e as coisas que menos gostam na intimidade. Conversem sobre os limites e dores. Tudo isto irá ajudar a criar um ambiente seguro e de apoio mútuo.
Lembrem-se: existem diferentes formas de comunicar e o nosso corpo também fala. Às vezes podemos transmitir mensagens opostas com as palavras e com o corpo. Não se esqueça de beijar e abraçar!

6 – A importância do apoio psicológico na redescoberta da intimidade

As mudanças físicas e emocionais que acompanham um AVC são complexas e criam desafios a qualquer relação. A procura de um psicólogo ou sexólogo pode ajudar a melhorar a comunicação, reduzir desconfortos, promover autoestima e explorar novas formas de intimidade.
O acompanhamento é um espaço seguro onde o/a sobrevivente de AVC e o/a parceiro/a podem partilhar inseguranças, dúvidas e receios, proporcionando uma nova visão sobre o outro, a relação e a intimidade. Isto permite uma melhoria no bem-estar individual e, também, fortalecer a relação conjugal, criando uma base de compreensão e segurança para a intimidade e sexualidade.

Conclusão

Apesar das dificuldades, a sexualidade após um AVC pode ser revitalizada com algumas adaptações. Cada passo na redescoberta da intimidade, por mais pequeno que seja, representa um passo em frente numa relação mais forte.
Um AVC pode mudar a vida, mas não tem de limitar a sexualidade. Com partilha, abertura, criatividade e suporte profissional, qualquer relação se pode reinventar tornando-se mais rica e satisfatória, onde o amor e respeito prevalecem.

Um AVC pode mudar a vida, mas não tem de limitar a sexualidade

De seguida, pode encontrar e descarregar um breve panfleto com a informação sintetizada do conteúdo deste artigo, apresentando algumas estratégias para adaptar a sexualidade pós AVC.

Não fique com dúvidas nem aceite as dificuldades na sexualidade após o AVC. Para não fazer parte dos 81%, procure informação e ajuda para viver a sua sexualidade.

Fontes

https://www.tandfonline.com/doi/full/10.3109/09638288.2012.754953
https://www.portugalavc.pt/sexualidade-apos-avc
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877065721000658
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10299413
https://www.stroke.org.uk/stroke/life-after/sex-and-relationships#What%20can%20cause%20problems%20with%20sex%20after%20stroke?
https://strokefoundation.org.au/what-we-do/for-survivors-and-carers/after-stroke-factsheets/sex-intimacy-and-relationships-after-stroke-fact-sheet
https://www.stroke.org/en/about-stroke/effects-of-stroke/emotional-effects/intimacy-after-stroke
https://www.stroke.org.uk/stroke/support/materials/stroke-news/breaking-silence-around-sex-after-stroke

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